A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição digestiva bastante comum, onde ocorre o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago, resultando em sintomas como queimação e regurgitação. No Brasil, entre 12% a 20% da população urbana é afetada por essa condição, ilustrando sua prevalência e seu impacto profundo na qualidade de vida.
A Conexão Entre DRGE e Tosse Crônica
Tosse crônica, persistente por oito semanas ou mais, é uma manifestação frequente e externa da DRGE. Estudos revelam que a DRGE, junto ao gotejamento pós-nasal e à asma, é responsável por até 40% dos casos de tosse crônica. Dois processos principais explicam esse vínculo:
1. Microaspiração: O conteúdo gástrico que retorna pode alcançar as vias aéreas superiores e inferiores, irritando a mucosa respiratória e provocando tosse.
2. Reflexo esofagotraqueal: O refluxo ácido ativa terminações nervosas no esôfago, desencadeando tosse mesmo sem microaspiração.
Efeitos na Saúde Abdominal
Os efeitos da DRGE não se limitam ao esôfago ou ao sistema respiratório, mas podem se estender ao sistema digestivo em geral. A exposição contínua do esôfago ao ácido estomacal pode levar a condições como esofagite, úlceras, estreitamento esofágico e esôfago de Barrett, que é uma condição pré-cancerígena aumentando o risco de adenocarcinoma esofágico. Além disso, a tosse crônica decorrente da DRGE pode aumentar a pressão dentro do abdômen, elevando o risco de hérnias, como a de hiato.
Processo Diagnóstico
O diagnóstico de DRGE associada à tosse crônica requer uma análise clínica minuciosa e exames complementares. A endoscopia é eficaz para identificar complicações no esôfago, e a pHmetria esofágica de 24 horas é o método padrão-ouro para detectar episódios de refluxo. A manometria esofágica pode ser necessária para avaliar a motilidade esofágica, especialmente quando o tratamento clínico padrão não surte efeito.
Abordagens Preventivas e Terapêuticas
O tratamento da DRGE e da tosse crônica relacionada combina mudanças no estilo de vida, terapia medicamentosa e, eventualmente, cirurgia nos casos mais graves.
Adaptações de Estilo de Vida:
– Controle de Peso: A obesidade é um fator de risco relevante para DRGE; então, perder peso pode aliviar significativamente os sintomas.
– Refeições Moderadas e Noturnas: Evitar refeições extensas, principalmente à noite, e evitar comer até duas horas antes de dormir é recomendado.
– Elevação da Cabeceira da Cama: Dormir com a cabeceira da cama elevada em cerca de 15 cm pode ajudar a controlar o refluxo noturno.
– Evitar Alimentos Desencadeantes: Certos alimentos como chocolate, café, álcool, gorduras e frituras devem ser evitados, pois podem agravar os sintomas.
Terapia Medicamentosa:
– Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs): Medicamentos como omeprazol e esomeprazol são eficazes ao reduzir a acidez gástrica e controlar sintomas.
– Antiácidos e Bloqueadores H2: Podem ser utilizados para alívio dos sintomas, embora sejam menos eficazes que os IBPs.
– Procinéticos: Indicados para melhorar a motilidade gastrointestinal em alguns casos.
Apoio Cirúrgico:
Nos casos em que os sintomas persistem, complicações graves ocorrem ou não há resposta ao tratamento clínico, a cirurgia antirrefluxo, como a fundoplicatura, pode ser considerada. Esta cirurgia fortalece o esfíncter esofágico inferior, prevenindo o refluxo.
Considerações Finais
A ligação entre a Doença do Refluxo Gastroesofágico e a tosse crônica evidencia a complexidade das manifestações além do esôfago e seus efeitos na saúde abdominal. Diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações e melhorar a vida dos pacientes. Mudanças no estilo de vida, prevenção e tratamentos personalizados são elementos essenciais na gestão eficaz dessa condição.